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| Distrito 10 | |
| | Autor | Mensagem |
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Avox
Mensagens : 14 Data de inscrição : 15/12/2013
| Assunto: Distrito 10 Dom Dez 15, 2013 12:53 pm | |
| DISTRITO 10"a principal indústria do Distrito 10 é o gado, tal fornecendo carne bovina para o Capitólio." A poucos dias da Colheita, o ambiente no Distrito 10 estava bastante tenso. Haviam menos gente na rua, as pessoas falavam menos e pareciam nervosas. Porém, o trabalho continuava. ATENÇÃO: Utilize este tópico para interagir dentro do seu Distrito (sozinho ou com o seu companheiro de Distrito). Pode falar de tudo, desde do que está fazendo até ao que está sentindo. Aproveite para desenvolver a história do seu personagem. A postagem não é obrigatória, mas apenas a faça se tiver a certeza que não mudará o distrito e ocupação do seu personagem depois. E lembre-se: O seu personagem ainda não foi escolhido na Colheita.
Última edição por Avox em Qui Dez 19, 2013 12:12 pm, editado 1 vez(es) | |
| | | Dante Archer
Mensagens : 70 Data de inscrição : 01/12/2013 Idade : 28 Localização : Distrito 10
Situação Saúde: (100/100) Fome: (100/100) Sede: (100/100)
| Assunto: Re: Distrito 10 Seg Dez 16, 2013 1:06 pm | |
| DANTE ARCHER Acordo com o canto horrível daquele galo desafinado.
Não acredito que aquele bicho ainda estava vivo, depois de tantos anos. Quem diria. Ainda me lembro de pedir juntamente com os meus irmãos a Zachary que nos deixasse ficar com ele. Como não éramos premitidos a ficar com animais do gado como animais de estimação, foi uma tarefa difícil, mas aqui ele continua.
- Toca a despertar. - exclamo, com pouca emoção. Os meus irmãos estavam perfeitamente conscientes de que não podiam ficar mais tempo na cama e não faziam cerimónia com isso.
- Bom dia pra você também - responde o mais novo, bocejando. Ele rápidamente se levantou da cama e quase escorregou ao sair dela.
- E prestar mais atenção ao chão em vez de no que eu digo ou deixo de dizer!? - comento, mas não deixo de sorrir para ele. - Anda, vamos acordar os teus irmãos.
Os outros dois ainda ressonavam. O mais novo não hesitou e se lançou na cama de um deles, abanando-o e gritando para ele despertar.
- Bem, acho que posso deixar a tarefa em boas mãos contigo. Encarregue-se de que eles já estejam todos bem despertos quando eu voltar. - digo.
Me preparava para ir tomar banho, mas antes fiquei observando meus irmãos mais um pouco. O mais novo estava agora rindo às gargalhadas enquanto a sua vítima o agredia com a almofada, e entretanto o outro mais velho já havia acordado com todo o barulho.
"E você, tome conta dos seus irmãos!" Esta frase ecoava na minha cabeça, numa voz meio imaginária. O fato de já me ter esquecido de como era a voz do meu próprio irmão me deixava angustiado.
Essa fora a última coisa que ele me havia dito.
O seu último pedido.
"Pode deixar!", foi a minha resposta.
* As gotas de água caíam a meus pés num ritmo constante após correrem pelo meu cabelo. Já estava a ficar longo de mais, mas isso pouco me importava.
As gotas já me estavam a irritar. Pareciam acelerar com a minha irritação. Porque eu não me conseguia concentrar noutra coisa!?
Atirei o chuveiro para o chão da banheira. A minha respiração estava acelerada. Peguei na toalha e sequei o meu cabelo rapidamente. Mirei o meu próprio reflexo no espelho. Notava como o meu peito se enchia e desenchia de ar, com a mesma frequência das gotas que pingavam. A minha respiração continuava pesada; o cabelo despenteado subia e descia de acordo com a minha respiração. Os meus próprios olhos me fitavam... aqueles olhos azuis, iguais aos do meu irmão... precisava sair dali. O grande dia estava próximo. Eu iria ter a minha vingança brevemente.
Já vestido, desci as pequenas escadas de madeira para encontrar os meus irmãos, todos sentados na mesa comendo pão. - Muito bem. - comento. - Preparados para mais um dia de trabalho? - sacudo as mãos. - Já sabem, cada um a seus postos.
Em minha casa sempre funcionou assim. Por sermos uma família numerosa, sempre dividimos as tarefas e assim conseguimos manter o nosso próprio negócio. Zachary era abatedor, eu o tratador que veio a substituir o meu pai. x acabou por substituir Zachary no seu posto, contra a sua vontade. Mas na altura, teve que ser.
*
Abri a cerca de madeira que separava o gado do campo de pasto.
- Toca a andar! - Exclamo, batendo com o meu chicote no chão, fazendo um barulho alto. - Eu disse, TOCA A ANDAR! - comando. As vacas não estavam obedecendo e eu não estava com paciência para desobediências. Apenas recebi um mugido como resposta.
- Vocês... não me façam usar isto. Não me façam! - Exclamo. A minha voz já estava a tremer. Eu tinha de me controlar. - Vá, a andar! Indico mais uma vez. - Abri a minha mão tremida para deixar cair o chicote. Eu não podia continuar com isto. Dei umas palmadinhas no dorso do animal que mais à frente se encontrava, este demorou mas lá começou a andar. Os outros seguiram o mesmo exemplo, todos atrás do primeiro. Eu tive que segurar a minha mão esqueda com a outra para evitar pegar no chicote. A forma lenta como as vacas caminhavam me estava incomdando profundamente.
Fechei os olhos e respirei fundo, enquanto esperava todas elas avançarem. "Só mais uns dias. Aguenta."
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| | | Ellie Ballantyn
Mensagens : 44 Data de inscrição : 20/11/2013 Idade : 24 Localização : Distrito 10
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| Assunto: Re: Distrito 10 Ter Dez 17, 2013 2:21 pm | |
| Ellie Ballantyn Acordo logo cedo e celo meu cavalo. Não quero trabalhar hoje, então já deixei avisado ao Fred e ao Matt para se virarem. Munto em Magnus (dei esse nome por causa de um dos vitoriosos do meu distrito, já que os dois têm a mesma cara...) e começo a galopar pelo distrito. Eu gosto desse clima, eu gosto do Distrito 10. A natureza é algo surpreendente e agradável. Trocaria todas as pessoas do meu distrito por um pasto bem verdinho e cheio de bois. De repente, Magnus para bruscamente e eu quase sou arremessada para longe.
- PORRA, MAGNUS! QUE MERDA! - quando termino de berrar, percebo o porquê de Magnus ter parado do nada. Era uma cobra. Mas não uma cobra comum, era uma Ardilosa. Bestante criada pelo Capitólio e colocada nos limites do distrito para que as pessoas não fujam daqui. Apenas uma picada da maldita e você morre em segundos. - Que se foda! - saco meu chicote e acerto a criatura no meio da cabeça. Ela cai morta. O Capitólio acha que é esperto, mas sempre há uma fenda na armadura deles. Não adianta ser venenosa e mortal e não ser resistente.
Decido voltar. Não que eu ligue para o perigo, mas não é muito seguro ficar aqui. Dou meia volta e volto calmamente para casa. Depois de algum tempo de cavalgada, avisto um dos irmãos Archer.
- Ei, seu tobó, já aprendeu a domar seu gado?! - grito para ele.
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| | | Dante Archer
Mensagens : 70 Data de inscrição : 01/12/2013 Idade : 28 Localização : Distrito 10
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| Assunto: Re: Distrito 10 Ter Dez 17, 2013 4:44 pm | |
| DANTE ARCHER
Me encostei na cerca de madeira enquanto o gado pastava. Enrolava e desenrolava o chicote na minha perna, batendo com o outro pé impacientemente. Depois de as vacas se alimentarem, iria ver como elas estavam de saúde e poderia partir para os outros compartimentos da quinta, ver dos animais restantes. Era um trabalho repetitivo e chato - eu já havia gostado dele. Nos temos em que o meu pai me ensinava como o fazer. Eu achava divertido talvez porque eu brincava mais do que trabalhava. Passava o dia perseguindo os animais e rindo. A nossa vida era bem simples e modesta, o negócio estava apenas começando e às vezes tínhamos que comer menos, mas até era uma vida boa. A gente era feliz. Tudo mudou quando o meu irmão foi escolhido para os jogos... Suspiro. Foi bom ter me conseguido distrair da minha raiva por uns momentos, mas minha a linha de pensamentos vai sempre, mas sempre parar à mesma coisa: aos Jogos. E isso só me deixava com mais raiva.
Sou interrompido pelo barulho dos cascos de um cavalo galopando perto dali. Levantei minha cabeça para notar a origem do barulho - vinha do outro lado da cerca que delimitava o campo do meu gado. Não tardei muito a enxergar o cavalo e a garotinha que o montava. Só não conseguia perceber quem era por estar algo longe.
Essa duvida rapidamente desvaneceu assim que ela começou falando. Voz e arrogância reconhecível em qualquer lugar. Só me faltava essa garotinha irritante para me alegrar mais o dia.
Me aproximo lentamente dela. - Quer vir cá experimentar por si própria!? - Respondo, rigidamente, enquanto batia com o meu chicote no chão num ritmo constante. - Os paizinhos não a ensinaram a ter boa educação e respeitar os mais velhos? - acrescento.
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| | | Ellie Ballantyn
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| Assunto: Re: Distrito 10 Ter Dez 17, 2013 5:58 pm | |
| Ellie Ballantyn -Vai se foder, Archer! Sou melhor que você no chicote. Não conseguiria me vencer nem vivendo três vidas! - Ellie saca seu chicote e acerta o chão com uma chicotada rápida - Preocupado com a Colheita, magricela?
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| | | Dante Archer
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| Assunto: Re: Distrito 10 Ter Dez 17, 2013 6:24 pm | |
| DANTE ARCHER
A garota estava mesmo a pedi-las. Eu estava dando o meu melhor para me controlar, mas ela não estava ajudando nem um pouco.
- Agora você pisou a linha, garotinha. Você acha mesmo que me conseguia vencer com esse tamanho? - solto uma risada irónica. Me aproximei mais. Ouvia o ritmo de como eu batia com o chicote aumentar significativamente à medida que me aproximava, mas eu nem me tinha dado conta. - Preocupado? Acho que preparado seria a palavra correta. Mais preparado que nunca, aliás.
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| | | Ellie Ballantyn
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| Assunto: Re: Distrito 10 Ter Dez 17, 2013 6:27 pm | |
| Ellie Ballantyn - O que quer dizer com isso? - Ellie sorri com o canto da boca.
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| | | Dante Archer
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| Assunto: Re: Distrito 10 Ter Dez 17, 2013 6:31 pm | |
| DANTE ARCHER
- O que você acha? - reviro os olhos. Ninguém sabe da minha intenção de me voluntariar, nem mesmo os meus irmãos. Não iria confessar isso para primeira garotinha de 13 anos que aparecesse na minha frente. - Que vou fugir do país no último segundo e tentar escapar ao meu último ano de Colheita? - respondo, com ironia.
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| | | Ellie Ballantyn
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| Assunto: Re: Distrito 10 Ter Dez 17, 2013 6:33 pm | |
| Ellie Ballantyn - Do jeito que você é burro, Archer. Não duvido disso. - Ellie solta uma gargalhada e começa a sair com seu cavalo - Adeus, magrela! Boa sorte... com seja lá o que você for fazer. - Ellie bate a espora em Magnus e o cavalo dispara.
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| | | Dante Archer
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| Assunto: Re: Distrito 10 Ter Dez 17, 2013 6:56 pm | |
| DANTE ARCHER
- Garota idiota... - murmuro. O que sabe uma criancinha como ela acerca de inteligência!? - Xauzinho, delicadeza. - Me limito a responder, alto o suficiente para me certificar de que ela ouvia.
Ainda bem que ela se foi embora, se ela continuasse ali mais um único minuto que fosse eu ainda cometeria alguma loucura.
Me voltei para o gado e acerto no chão com o meu chicote.
- Intervalo acabou. Toca a voltar! - começo a correr em direção aos animais assim que estes me ignoram por completo. - HEY! Eu disse para voltarem para dentro, idiotas!
Não hesito e lanço o meu chicote em direção a uma das vacas. Esta muge de dor e começa correndo; as outras todas seguem o exemplo e fazem o mesmo. Dirijo-as para o outro lado da cerca.
* - Acho que está tudo bem. - murmuro para mim mesmo, terminando de analisar os olhos dos animais. Não havia sinal de infeção alguma. Apenas alguns cortes aqui e ali no corpo de alguma das criaturas. Mas disso eu sei bem qual foi a causa...
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| | | Dante Archer
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| Assunto: Re: Distrito 10 Seg Dez 23, 2013 10:46 am | |
| DANTE ARCHER
Vontade de ir verificar o estado de todos os outros animais era algo que necessitava de uma vontade que eu pura e simplesmente não tinha. Mas se queria manter o negócio em pé, assim tinha que ser...
Fechei a cerca que delimitava o estábulo das vacas e dirigi-me lentamente até um compartimento mais pequeno. O chicote arrastava-se pelo chão. O mundo parecia andar em câmara lenta... A Colheita nunca mais chegava. As horas pareciam dias... E os minutos horas.
Entrei na coelheira. Foi apenas uma questão de segundos até ser atacado por um monte de bolas brancas. Quase não me conseguia mexer ali dentro. Tinha um impulso enorme dentro de mim me obrigando a pontapear todos eles e sair dali... mas algo me impedia. Eu não conseguia... com estes, era diferente. Com estes não... com um destes em especial. Peguei no saco da comida e lancei um pouco desta estrategicamente pelos cantos da coelheira, para me deixarem passar para outro compartimento. Zachary havia construído com pedaços de madeira velha um anexo à coelheira, onde se encontrava apenas um exemplar da espécie.
- Dorion - murmuro, tentando conter um sorriso. Aquele animal estava tanto ligado a más recordações como a boas. Lembro-me da primeira vez que este veio parar à nossa quinta por engano... só o destingiu pela fitinha que ele levava no pescoço. Tentei ficar com ele, mas vim a descobrir que ele pertencia a uma amiga de Zachary. Ela acabou por me deixar cuidar dele no dia em que ela foi escolhida para os Jogos Vorazes... desde então o meu irmão nunca foi o mesmo.
Deixei um pouco de comida para ele e afaguei-lhe a cabeça. Quem me visse aqui não me reconhecia, mas eu já fui assim...
*
Voltei para casa. Os meus irmãos já lá estavam todos me esperando para almoçar. Talvez eu tenha demorado mais do que o que devia...
- Desculpem a demora, pessoal. Tive visitas inesperadas. - tentei não perder muito tempo com esse assunto. - Então Anthony, o que temos para almoçar hoje? - pergunto para o mais novo. Fico meio angustiado quando ele me responde que é coelho.
- Você sabe que eu não aprecio muito comer coelho - comento, colocando os pratos na mesa.
- M-mas Dante, você sabe que isso não depende só da nossa vontade... - intervém Samuel. O garoto andava bem nervoso nos últimos dias, pois em breve iria enfrentar a sua primeira Colheita. Mal sabia ele que nem se teria que preocupar com isso. Este ano o Distrito 10 terá um voluntário, aconteça o que acontecer.
Bem, ele tinha razão. Ter o nosso próprio negócio não nos safava de o facto de sermos controlados pelo Capitólio. O que consumíamos tinha que ser cuidadosamente estudado, para termos disponíveis exatamente o que o Capitólio queira quando este assim o pedir. Suspirei e me sentei na mesa junto com meus irmãos. Anthony estava tentando alegrar Samuel contando piadas e fazendo graças. Samuel fingia sorrir, mas eu conseguia notar que ele não estava bem. Mas não podia simplesmente dizer-lhe para não se preocupar porque eu me pretendia voluntariar... Cain acabou te comer impressivamente depressa e saiu da mesa sem dizer uma única palavra. Ele parecia chateado com alguma coisa, mas ele raramente partilhava alguma coisa connosco. Era de todos, o mais parecido comigo. Ele nunca se preocupou muito com a Colheita e aliás, ele seria ótimo como Tributo. Nunca o vi deixando se ir abaixo por o que quer que seja, e o seu trabalho como açougueiro seria uma mais valia. Mas eu não permitiria nenhum deles ir para os Jogos, nunca.
Terminei de comer. - Vou voltar para o trabalho, - falo para Anthony e Samuel - e espero que vocês façam o mesmo quando terminarem. - Agora estava olhando apenas para o mais velho dos dois. - Samuel, espero que a Colheita não esteja afetando o seu rendimento diário. Confie em mim quando lhe digo que não se deve preocupar com isso.
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| | | Dante Archer
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| Assunto: Re: Distrito 10 Sáb Jan 04, 2014 5:47 pm | |
| DANTE ARCHER O gato de Zachary salta para cima da mesa e começa miando. Quando nota que eu não lhe presto atenção, ele começa a atirar para o chão as coisas que se encontravam em cima a mesa. Uma pontada de raiva passa por mim... Eu nunca gostei muito deste animal. Nem ele de mim, eu acho. Mas era a única coisa que me restava de Zachary... bem, que não tivesse morto – repenso, ao me recordar da coleção de crânios que ele mantinha no seu quarto. Lhe atiro um pouco de presunto. O animal apanha o pedaço de carne no ar sem muitas dificuldades, apesar da sua idade.
Anthony aparece correndo escada abaixo não tarda muito. Ele se senta na mesa, seguido por Samuel, que esfregava os olhos e caminhava lentamente.
- B-b-bom dia – ele gagueja. A Colheita estava próxima demais, e o nervosismo era notório na voz dele. Já não o via assim à bastantes anos...
Esperamos uns minutos por Cain, até Anthony se lembrar e dizer que ela havia dito estar sem fome. Suspiro alto e começo a server o café da manhã aos meus irmãos.
- Sabem, eu estive pensando ontem... que talvez hoje pudéssemos fazer uma pequena pausa no trabalho e ir passear pelo Distrito. Para... arejar um bocado. O ambiente tem estado um pouco tenso, não acham? Anthony já estava aos pulos na cadeira. Samuel apenas mostrou um sorrisinho tímido, mas já era bastante conhecendo-o como o conheço. A gente raramente fazia pausas no trabalho, especialmente após a morte do meu pai. Mas os meus irmãos... eram o que me restava de sanidade mental. Sem eles, eu não sei onde estaria... eles são os únicos que me mostram uma realidade mais confortável.
- Bem, então despachem-se a comer e vão buscar os vossos cavalos. Eu vou chamar o Cain.
Comecei a subir as escadas. Cain era o único que tinha o direito a um quarto só dele, para além de mim e de Zachary. Samuel poderia utilizar o quarto de Zachary, mas a gente decidiu deixar ele exatamente como este o havia deixado... como uma forma de o manter vivo entre nós, eu acho. Bati suavemente na porta de Cain. Quando este não respondeu, voltei a fazê-lo. Desta vez com mais força. Minutos depois, já estava gritando. Cain, me abra essa porta, porra! - voltei a bater. Nada.
- Vá-se embora... - o garoto murmura, finalmente. Não havia tristeza na sua voz, se parecia mais com... ira.
- A gente vai dar um passeio pelo Distrito. Se não quiser vir, é bom que não passe o dia fechado no quarto! - grito para ele.
Ele não responde e eu já não quero saber. O que raio se passava com Cain, se ele não queria contar, eu não me iria preocupar. Desço as escadas e saio pela porta que vai dar ao estábulo. Anthony e Samuel já estavam montados em seus cavalos, me esperando.
- Muito bem – comento para eles. Me aproximo do meu cavalo – um exemplar grande, todo preto. Tinha algumas marcas em seu corpo, mas ainda era um cavalo novinho. - Bem, seguimos? - Bato levemente com o chicote no chão e o cavalo dispara. Os dos meus irmãos seguem o exemplo, seguindo o meu para fora do estábulo.
O meu cavalo segue um trotear ritmico e lento, apenas uns centímetros em frente do dos meus irmãos, que seguiam lado a lado.
Estivemos um bom tempo apenas assim – sem dizer uma única palavra, cavalgando pelo Distrito. Sentindo o vento batendo na nossa cara, o assobio contínuo e irritante e os rolos de feno rolando com o vento. O barulho das placas de madeira abanando e embatendo nas edificações.
Sinto um aperto no peito enorme ao passar por uma casa. Desviei imediatamente, o olhar, mas algo me obrigou a olhar de novo.
- Olá, Sinistro. - uma voz familiar diz. Volto a olhar para a casa para ver Frank apoiado na cerca que rodeava a sua casa, olhando para mim com o seu habitual sorriso malicioso.
- Oi, Idiota. - respondo. - Como vai tudo? - mando o meu cavalo parar.
- Bem, bem. Nervoso com a Colheita? - Ele responde. Sinto o meu irmão se arrepiando com a pergunta.
- Nem por isso – rio um pouco. - Aliás, estou melhor que nunca em relação a isso. Quando vais precisar de mais carne?
O garoto hesita um pouco antes de responder.
- Hmm... talvez um dia antes da Colheita. - Ele propõe. - Sabe como é a confusão nesse dia.
- Okay, eu depois venho cá trazer então. Até depois, Idiota. - aceno para o garoto e faço sinal com o chicote para o cavalo retomar o andamento.
*
Evito passar pela praça principal de propósito. O choque ainda estava demasiado presente em nossa mente e era recordado sempre que por lá passávamos. Não iria ajudar a acalmar Samuel de certeza. Continuo o caminho até chegar numa pequena taverna, cuja placa de madeira indicando o nome estava apenas presa por uma das cordas. Era um lugar onde o nosso pai nos costumava levar, a nós todos e a Zachary desde que a nossa mãe morreu. Não visitava o lugar desde a morte dele, mas estava exatamente na mesma. Anthony parecia extremamente animado – saltou imediatamente do cavalo e correu lá para dentro sem sequer prender o seu cavalo, deixando o trabalho para mim e para Samuel.
- Vai com ele – digo para Samuel. - Eu trato disto.
Entro na taverna e me sento na bancada, observando os meus irmãos. Respondo que não para o criado quando este me pergunta se desejo tomar algo. Anthony estava animadíssimo tentando convencer Samuel a dançar com ele ao som de um grupo musical que lá estava tocando. Demorou, mas Samuel acabou por alinhar na brincadeira. Sorri para eles, mas logo me voltei para a frente, imaginando meu pai e Zachary sentados em meu lado...
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| | | Dante Archer
Mensagens : 70 Data de inscrição : 01/12/2013 Idade : 28 Localização : Distrito 10
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| Assunto: Re: Distrito 10 Dom Jan 05, 2014 12:31 pm | |
| DANTE ARCHER Por momentos quase os ouvi. O meu pai e Zachary, conversando... sobre o trabalho, talvez. Conseguia sentir as minhas mãos tremendo, criando um ritmo constante na mesa de madeira da taverna... não era o único a reparar, pois o homem que se sentava desde a outra ponta da mesa já estava me fitando, chateado. Com alguma dificuldade, consegui retirar as minhas mãos e colocá-las por baixo da mesa.
A banda continuava tocando uma música típica cá no Distrito 10, mas a minha mente não se conseguia concentrar nela. O som ecoava dentro da minha cabeça mas não me fazia entender as palavras – distorcia-as.
Anthony, percetivo como sempre, não tardou a perceber que algo não estava bem. Veio ter comigo e agarrou em meu braço, perguntando se estava tudo bem.
- Sim, pequeno – respondo, com um pequeno sorriso. - Não se preocupe.
* Depois de Anthony se divertir o suficiente com Samuel e eu me conseguir acalmar, decidimos voltar para casa. Ainda havia trabalho que fazer, a gente não se podia dar ao luxo de tirar um dia completo de folga assim. O caminho desta vez foi mais rápido, sem pausas. Chegamos em casa ainda antes do entardecer. Anthony não faz cerimónia e assim que guarda o seu cavalo, parte para o seu posto de trabalho. Samuel olha para mim e me agradece com um sorriso tímido, antes de fazer o mesmo. E eu deveria fazer o mesmo também, mas primeiro tinha que resolver uma coisinha.
Subo as escadas e me dirijo ao quarto de Cain. A porta está trancada – como previ, o garoto não havia saído para trabalhar. Bato na porta furiosamente. Para variar, ele não responde. Bato de novo. E de novo.
- Cain, abra a porta imediatamente! - Grito. - Estou farto dessa brincadeira. - Acrescento, batendo com o chicote no chão. - Escuta, o negócio não funciona sem a colaboração de todos. Precisamos de preparar carne para o dia antes da Colheita, urgentemente! Por isso abra essa porta e vá trabalhar.
Consigo ouvir ruído do outro lado da porta e finalmente vejo a maçaneta a mexer-se. Cain sai do quarto uns segundos depois, e me olha vorazmente nos olhos antes de descer as escadas correndo sem dizer uma única palavra. Porém, o tempo que ele levou para me lançar aquele olhar fora o suficiente para conseguir reparar nos seus olhos extremamente vermelhos e cansados, rodeados por vários círculos negros como se não dormisse à dias.
- Cain, esper... - ia chamar por ele, mas já tinha desaparecido. - Droga, - murmuro. Desço as escadas calmamente, a visão dos olhos furiosos de Cain piscando em minha cabeça.
Em vez de sair pela porta da esquerda que vai dar para o campo onde deveria ir tratar dos animais, viro para a direita e atravesso a sala até à porta que dava para o outro lado da quinta. Havia lá um pequeno anexo de madeira pintada de vermelho e branco – o local onde Cain trabalhava. Caminhei em passos lentos até lá. Sem bater à porta, a abri lentamente para encontrar Cain sentado na cadeira, fatiando a carne de um boi que estava preso no teto por umas cordas.
Entrei e fechei a porta atrás de mim. - Cain, vai me querer contar o que se... - fui interrompido por uma rajada de vento e pelo barulho de algo embatendo na porta, por cima de mim. Conseguia sentir algumas lascas de madeira em minha cara. Cain me fitava com aqueles olhos vermelhos. Estava agora de pé, arfando, e já não segurava a sua faca ensanguentada – ela estava ali, bem por cima da minha cabeça.
Levanto as minhas mãos instintivamente. - Cain, a gente não resolve as coisas assim...
- Então porque está segurando o seu chicote!? Me explique! - Ele estava gritando. Mas tinha razão, eu tinha o meu chicote em minha mão esquerda e nem me lembrava de ter pego nele. A minha mão começa a tremer.
Eu... - começo, mas logo sou interrompido.
- Apenas vá embora. Já! - Ele ameaça. Já tinha outra faca preparada na mão.
Abri a porta e saí sem mais nenhuma questão. Cain nunca mais foi o mesmo desde a morte da mãe, suponho que a do irmão e a do pai não o ajudaram com isso. Mas nunca o tinha visto assim...
Anthony e Samuel vinham correndo para mim assim que voltei a entrar em casa.
- Onde estava? Procuramos você por todo o lado! - diz Samuel.
- Não importa, o que se passa? - me apresso a dizer, arfando.
- Um dos bois para abate tentou atacar Anthony – Samuel gagueja. Anthony olhava para mim com uns olhos tristes. - Felizmente não chegou a atacá-lo, ele conseguiu sair a tempo e por sorte eu estava ordenhando uma vaca lá fora e ouvi o barulho e... - Samuel falava depressa, mal dava para perceber o que ele queria dizer.
Tudo bem, eu vou lá. - esclareço em poucas palavras. Anthony começou a correr até ao matadouro seguido por mim e por Samuel.
Já cá fora, era possível ouvir os mugidos. O animal não estava nada contente, de certeza. Indiquei a Anthony e Samuel que ficassem cá fora e, de chicote na mão, entrei dentro do matadouro. O boi pulava, mugia e assim que os seus olhos furiosos pousaram sobre os meus, ele não hesitou e investiu em ataque. Eu consegui me esquivar, mas fora por pouco. Lancei meu chicote em direção a uma das suas patas traseiras e puxei com todas as minhas forças. O animal caiu no chão. Retomei o meu chicote e aproveitei para chicotear o animal com força repetidas vezes em suas costas. O sangue quente salpicava e escorria em minha cara. Esta não era uma tarefa para qualquer um... Era uma tarefa para Zachary. Abano a cabeça. Se eu nunca tivesse feito isto antes... Anthony não merecia ter que fazer isto. Ele é bom de mais. Se o meu pai o tivesse ensinado a tratar do gado desde cedo...
De repente, o animal parou de mugir. Olhei em redor – o lugar onde Zachary trabalhava diariamente, com sangue tanto fresco como seco pintando as paredes. Ainda o conseguia imaginar ali, com os seus olhos tristes fazendo o trabalho que tanto detestava. Mas ele o fazia, sem contestar nada.
Abri a porta para dar de caras com os meus irmãos. Samuel me olhou de alto a baixo, assustado.
- Já... já está pronto. - Digo, e saio correndo para dentro de casa.
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